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Notas Soltas (IV) - Morte e Redenção
Post por Anónimo



Até hoje na minha vida aprendi duas coisas, que apesar de parecerem absolutas, fazem perfeito sentido na minha cabeça: “Quanto mais comes, mais cagas” e “Apenas os bons morrem jovens”. Existe um sem numero de exemplos que poderia apontar aqui nesta lista, mas vou dar destaque a dois nomes que me parecem ser absolutamente necessários (extra-wrestling). Bob Marley, que sempre teve os pés bem assentes na terra, deixou-nos prematuramente devido a um cancro. “We’ll be forever loving jah” cantava ele, e a verdade é toda a gente recorda a sua obra, a sua luta por um mundo melhor, a sua luta pela paz entre os povos. Martin Luther King, autor do famoso discurso “I Have a dream”, foi também um ponto alto na história deste planeta redondo e cada vez menos azul que habitamos. Também lutou para terminar com as injustiças, mas foi assassinado antes que tivesse a oportunidade de causar uma revolução de proporções bíblicas.


Trazendo agora isto para o tópico que prevalece neste blogue, não se vá chamar ele Wrestling Alliance, é possível apontar alguns nomes que sobressaíram na história, marcaram uma geração com um dedicação fantástica, e um coração que apesar de débil em alguns casos, sempre deu para além da sua capacidade para fazer da sua profissão algo competente de bem visto. Sempre fui apologista de não remexer no passado, não levantar poeira quando esta já se encontra bem assente, mas sobre este tema todos os cronistas têm de falar pelo menos uma vez na sua (curta/longa) carreira. Pelas minhas palavras posso fazer transparecer que irei colocar algumas pessoas num pedestal, mas a verdade é que irei fazer o oposto disso, por muito que custe a alguns. Começarei agora com as minhas considerações propriamente ditas.



Owen Hart é um nome que costuma estar sempre na baila quando se fala no tema “morte no pro-wrestling”. Compreendo, era um grande lutador que acabou por passar despercebido para alguns responsáveis, e pode ser considerado um dos grandes lutadores a nunca ter ganho um título mundial. Mas valerá a a pena estarmos sempre a puxar este tema, como se o homem se fosse erguer da sua sepultura ao som de um Thriller, entrar num ringue pela ultima vez e vencer o título mundial que falta no seu currículo? Penso ser descabido puxar sempre este tema à conversa, principalmente quando o lutador morreu representando uma personagem secundária e com pouco ou nenhum interesse/novidade. Crucifiquem-me, mas é isto que penso. Adiante, valerá a pena levar ao escrutínio máximo os últimos vinte metros da sua vida, em que decerto a palavra “morte” foi a ultima que lhe passou pela cabeça, seguida pelo vocábulo “redenção”? Porquê gastar palavras todos os anos, com os mesmos comentários genéricos de “serás sempre lembrado”, escritos nos mais variados memoriais? Porque não celebrar a sua morte com algo simbólico, como uma visualização do seu ultimo combate?




O mesmo se passa com outro nome, este ainda mais recente e fresco nos nossos cérebros. Eddie Guerrero. Sim, todos nós sabemos que o Latino Heat iria vencer o título mundial meros dias depois da data do seu trágico falecimento, mas será que isso é motivo para ficarmos tristes, e ao mesmo tempo felizes por Rey Mysterio o ter feito por ele? A minha resposta é um rendondo NÃO seguido de um ponto final. Mas não parágrafo. Este assunto vem à baila como argumento para o quão bom ele era, e ninguém, repito, ninguém lhe pode tirar o mérito, mas não esteve ele esquecido uns bons dois anos sem qualquer do género? Porque não lhe foi dada nova oportunidade de provar que podia ser um bom campeão mundial um ano antes? Não deveríamos ficar tristes por estes acontecimento (não me refiro à sua partida), mas sim chateados pela equipa criativa ter dado o valor devido tarde demais. E não digo que a culpa seja deles, pois ninguém iria imaginar que os anos de abuso que o homem teve o iriam levar à morte. Pelo menos desta vez a “redenção” tinha vindo com antecedência.


Por fim refiro um nome que pode ferir susceptibilidades. “Canadian Crippler” parece ser um nome demasiado adequado para as suas acções pré-suicídio, e só espero que Randy Orton não tome o mesmo caminho, pois não dava muito jeito mais um homicida no mundo (ok, foi parvo e descabido). Encarrilando o comboio de novo, Chris Benoit foi um grande lutador, que foi vencido por um atrofiado cérebro, se é que lhe podemos chamar isso. Benoit venceu dois títulos mundiais, e merecia decerto mais dois (pelo menos) no seu currículo. Num paralelismo interessante, supostamente este iria vencer o título (not) mundial da ECW no fim de semana da sua partida. Alguém se lembra de Eddie? Não quero comparar as acções extra-ringue de cada um deles, mas quero consciencializar as pessoas para uma realidade que parece por vezes alternativa: Estará correcto apagar Chris dos anais da história? A meu ver é completamente descabido. Concordo que uma pessoa que cometeu tais actos atrozes não receba o estatuto de “lenda”, mas apagando este homem da história é apagar um exemplo de vida, e do que os lutadores do presente/futuro não podem fazer se querem ter uma carreira longa e livre de fatalidades.



Assim, apoio com toda a clareza uma tese que pode incomodar muitos, pode agradar a outros, mas na verdade estou-me nas tintas para os que criticam por criticar (desculpem a frontalidade). Podemos relembrar Owen e Eddie por actos simbólicos, e não uma vez por ano num longo post que irá retratar a sua carreira do inicio ao fim, explorando também uma realidade paralela em que estes se encontram vivos e de saúde, lutando num ringue perto de si. Acabando o “promo moment”, vou ser curto e directo: Quem não ajuda uma velhinha a atravessar a passadeira quando ninguém está a ver, mas quando está a ser julgado ajuda essa mesma cidadã sénior, está errado. Quem se lembra uma vez por anos destes dois lutadores, fazendo o referido texto, está apenas a ser hipócrita. Querem lembrar-se deles? Façam um desenho, um vídeo, ou simplesmente pensem apenas neles. Mas não o façam só para aquele dia. E não digam que era como família, pois isso faz o estômago de qualquer pessoa sã dar duas voltas e subir o esófago. Isto aplica-se a todos os lutadores, ainda mais quando se trata de um Andrew Martin. Quanto a Benoit? Tenho dito, e não acrescentarei mais nada.


Selecção Musical: Bob Marley - Redemption Song

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Blogger Wonderwall comentou:
Bom Trabalho :)
26 de setembro de 2009 às 10:39  
Blogger César Santos comentou:
Tens aqui um texto de altíssima qualidade e vais mostrando semana após semana o teu talento para as artes da escrita.

O tema em foco é sempre complicado. Se por um lado compreendo e corroboro com as tuas ideias àcerca de Eddie e Owen Hart, por outro, não posso concordar no que diz respeito a Benoit. Porque, seja em que área for, nunca podemos separar o profissional do pessoal, já que são a mesma pessoa e pensam da mesma forma. não sendo justo elevar a sua qualidade profissional para depois rebaixá-lo quanto ao seu carácter. Ambos têm se ser indiscutíveis à luz da sociedade e dos princípios da mesma para que o homem se torne imortal. E Benoit desiludiu, mais que qualquer outro wrestler.

Mais uma vez, um estupendo texto...

Abraço
26 de setembro de 2009 às 17:58