Nuns parênteses acima referi que estava a ser feito algo que eu acho uma má medida – tornar o conteúdo dos programas mais light, no que diz respeito aos aspectos que se pensam ser inadequados para crianças. Acima de tudo, há a questão de princípios. Ninguém me convence que violência, seja qual for a forma que encarna, mesmo havendo alguém do seu tamanho lá metido, é apropriado para miúdos. Como é que ver pessoas agredirem fisicamente outras não é desaconselhável para mentes novas? Todavia, logicamente, se alguém pronunciar “asshole” ou levantar o dedo do meio da mão em decadência dos outros, aí o programa é classificado como para maiores de dezoito. Onde já se viu um pequenote a proferir um palavrão ou um gesto tão bonito para imitar o seu ídolo? Ah, que indelicadeza! Incentivar os putos a bater uns nos outros para, outra vez, imitar o seu ídolo? Os preocupados pais perguntam: “Mas irão dizer palavrões durante a porrada?”. Jamais, pois nos programas da WWE não há palavrões. “Então, ‘tá bem. Os miúdos até podem-se magoar, mesmo partir o pescoço e morrer ao tentar fazer uma Swanton Bomb do telhado da nossa casa mas, seja esse o caso, irão directos para o Céu, pois não andaram por aí a dizer palavrões, que nem vadios. E isso é o que importa…” – reflectem os belíssimos pais.
Segundo ponto nesta questão: como puderam descredibilizar tanto o combate Hell in a Cell? Honestamente, neste momento eu guardo a mesma expectativa para um combate no-DQ do que para um combate HIAC. Não quero agora focalizar-me no número, isso irei fazer mais adiante. Foram três combates do género, na mesma noite, sem uma única gota de sangue! Vi combates Steel Cage mais violentos! Na minha opinião, isto é simplesmente ridículo. Caso tivesse oportunidade para tal, iria assistir ao evento ao vivo, levando um cartaz com a frase: “If I don’t see blood, I riot”. É claro que eu pude, igualmente, fazer um motim em minha casa, incendiando um candeeiro, entre outros objectos, e enunciando frases de descontentamento, mas, por alguma razão que me ultrapassa, não teve o mesmo efeito que previ caso fizesse isso no recinto.
Depois da gripe A, veio a epidemia dos pay-per-view temáticos. Analogia conveniente, pois para alguém se ter lembrado de tal ideia como uma medida positiva deveria estar sob o efeito de alguns sintomas tramados de alguma doença. Por mais que pense, não consigo perceber de que modo esta alteração aumenta a qualidade dos programas de domingo à noite, assim como a das rivalidades. Passo a explicar. Um combate apenas por ter certa estipulação não irá, de certeza, ser bom. Existem provas que cheguem nos mais recentes PPVs que corroboram a minha opinião. A qualidade de um combate é condicionada por várias variáveis, sendo uma delas a sua estipulação. As storylines são, de momento, muito subvalorizadas na federação e, no entanto, influenciam a qualidade de um combate extraordinariamente. Por isso, muitas vezes não faz sentido elevar certa feud a um combate com uma estipulação especial.
Aceitaria melhor esta medida se apenas se alterasse uma característica: se houvesse apenas um combate nessa noite ao qual fosse estipulado a temática do show em questão. Três combates Hell in a Cell são demasiados para ocorrerem num ano, quanto mais na mesma noite. Como consequência é notória uma equivalência entre as feuds, independentes entre si, que são consideradas main event, ou seja, que irão originar um combate do tipo definido para o PPV. Para diferentes rivalidades perguntava-se, antes do Breaking Point: “quem será o mais resistente?”, “quem irá desistir?”; antes do Hell in a Cell: “no domingo, não haverá interferências e não poderão escapar”, “não sabem o que lhes espera, nunca passaram por tal”. Até alguns diálogos de diferentes feuds contiveram semelhanças. Não é preciso prestar muita atenção para reparar nisso.
Sinceramente, isto pode ser o princípio para o fim da minha paixão pelo desporto, abandonando por completo este passatempo. A partir de agora, com a forma como os PPVs são organizados, isto vai tornar-se bastante aborrecido. Esperemos que esteja enganado…
Enfim, olhando para trás e observando tudo o que escrevi, parece que o panorama na WWE encontra-se na sarjeta. Porém, há sempre algo que acontece, inesperadamente, que nos leva a pensar, sem dúvida, que é ali onde se faz o melhor desta indústria. De qualquer forma, tudo o que eu disse é inegavelmente verdade e, caso se continue a insistir nestes termos, é provável que eu me desinteresse totalmente por wrestling (sim, se eu deixar de ver WWE não irei procurar alternativa). Por enquanto, irei manter-me fiel e aguardarei por um futuro melhor.
P.S. Vickie Guerrero de volta! “Excuse me!” *vénia*
P.S.2 Para os mais confusos: não existe ironia no P.S. anterior.
Bem, aqui está mais uma belissima crónica! É notável ver como melhoras de semana para semana, ou de dia para dia. ;)
Comentando o tema, bem, mais uma vez concordo com o que tu proferes, no entanto, estas situações jamais irão mudar, mesmo que os fãs queiram, e é isso que alguns ainda não entenderam (e esta não é, de maneira nenhuma, uma boca para ti)! Tudo bem que queremos um produto mais adulto, talvez com uma menor banalização de certos e determinados gimmicks matches, e com um pouco mais de credibilidade... contudo, reparem, os tempos são outros e, como tal, temos de acompanhar essa evolução: seja esta boa ou má!
Ainda assim, sou apologista das tuas medidas, mesmo sabendo que elas não alterarão tão breve a modalidade.
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